Palavra de Especialista
“REFLEXÃO SOBRE O DOGMATISMO CIENTÍFICO NO ORKUT”
Margarita Rodrigues
MS, doutoranda em Sociologia.
27/11/2006
Usar a tecnologia da comunicação da internet ou virtualidade como informação, mas utilizando a mesma metodologia de “ensino bancário”, continuará privilegiando a educação para a formação dos “Filisteus da Cultura” de que Paulo Freire e Nietzsche falam. Percebi também haver entre aqueles que fomentam as discussões, estudantes que se aproveitam das respostas embasadas cientificamente em seus trabalhos escolares. Como disse sabiamente Nietzsche: “o papel do professor não é empanzinar os espíritos, mas criar uma fome”. Além do que, se formos analisar o que se passa nessas comunidades, se verá que o dogmatismo já chegou também à ala científica, como por exemplo, quando da defesa extremada, a argumentação cientifica nos últimos tempos sempre vem carregada de ironia, prepotência ou arrogância (muitas vezes acompanhada de pornografia). Ou quando passam a desqualificar as ciências preparadigmáticas na defesa “cega” ao empiricismo, esquecendo as palavras de Khun sobre os “saltos” ou “revoluções científicas”. Negar que estamos em meio a um processo revolucionário é não enxergar a evolução do conhecimento científico nas mais diversas áreas do conhecimento. Desde o início do século XX novas descobertas dos fenômenos subatômicos, da física quântica, vêm dando novos contornos às estruturas da natureza dos fenômenos até então estudados e abalando a base do paradigma científico newtoniano/cartesiano, que dominou a ciência moderna ao longo destes três últimos séculos. Edgard Morin nos ensina que nem mesmo a união de todas as ciências seria capaz de explicar os fenômenos da complexidade. Já o olhar de Ilya Prigogine nos trouxe a “novidade a respeito da organização e criatividade na natureza, do pensamento humano enquanto função cognitiva e conceitos sobre o Tempo”.
Não estariam, sob a mascara da “erudição”, os cientistas escondendo ou defendendo uma “teologia camuflada”? O quê dizer então sobre a sugestão dada de um livro de Schopenhauer como “manual de refutação de falácia” e que foi levado para outra comunidade, a Céticos S/A, como o seguinte título no tópico “Da leviandade de alguns membros”?
Como foi discutido nas Comunidades Linha Evolucionista, TMF/Tenho Medo de Fanatismo e Evolucionismo x Criacionismo, no tópico Evo x Evo, o nível das discussões já entrou para alguns professores/pesquisadores no terreno da ética.
Dado o nível tomado nas discussões, são poucos os criacionistas que ainda permanecem, ou que discutem nessas comunidades porque o dogmatismo científico está conseguindo esvaziá-las, porém isso não indica que estão ganhando o debate.
Finalizando lembro aos cientistas/professores e àqueles que usam sua real identidade, que o mundo virtual do Orkut é apenas mais uma “jaula de ferro” que a burocracia, no sentido weberiano se apropriou, ou um simulacro do “panóptico de Bentham” de que fala Foucault. Mesmo moderada, as comunidades são “vigiadas” e “observadas” e um pequeno deslize pode comprometer a vida profissional de alguém mais exaltado como diversas reportagens sobre esse tema já informaram. A linguagem utilizada no Orkut é um terreno fértil para aqueles que se dedicam à Análise do Discurso!
Os profissionais da educação e da ciência não podem se dar ao “luxo” de repetir a frase que um estudante militante “evo” me deu ao ser alertado sobre essa possibilidade de estar sendo “vigiado”: “Felizmente não preciso trabalhar ainda, mas, quando precisar deleto esse perfil e abro outro”.
Para aqueles que poderão vir a ver essa crítica como negativa, afirmo que não foi essa minha intenção. Muito pelo contrário, tenho aprendido muito nas leituras que faço do que é postado com seriedade. Minha intenção foi tentar provocar aquilo que costumo fazer com meus alunos: “uma tempestade de idéias”. Às vezes, estamos tão empolgados com um tema no Orkut, que esquecemos que a vigilância eletrônica faz parte do dia-a-dia de nossas vidas e que a privacidade da vida está cada vez mais limitada. E, se mesmo assim, não for compreendida me desculpem, parafraseando Voltaire, mas vou defender o seu direito de criticar mesmo que não compartilhe de suas idéias.