Friday, June 29, 2007

Pitacos Renânicos

Olá caros leitores! Hoje estréia uma nova coluna, que é a "Pitacos Renânicos", onde o autor desse blog, que é este que vos escreve, vai escrever artigos emitindo suas modestas opiniões. Para estreiar, escrevi sobre um tema importantíssimo e que norteia todas as minhas ações (ou pelo menos quase todas...)

Em Defesa do Equilíbrio


Renan B. Fernandes



Antes de tudo, quero contar uma história. É a história de como me envolvi nos debates entre “criacionistas” e "evolucionistas" no orkut.

Quando entrei no mundo virtual, descobri milhares de pessoas que pensavam como eu, que compartilhavam das minhas opiniões. E, também, encontrei uma pluralidade imensa de idéias. Porém, descobri uma infinidade de pessoas que não acreditavam na Teoria da Evolução das Espécies. Sinceramente, para um menino de Ensino Médio, nunca pensei haver tanta gente que desacreditasse uma idéia, para mim, tão simples. Mas logo fiquei fascinado pelos debates e pela quantidade de informação disponível neles; eram dezenas de sites, estudos, textos de diversas áreas do conhecimento, enfim, um monte de ciência que nunca sonhei existir. Apaixonei-me e caí de cabeça nas discussões. Não demorou muito para que eu começasse a estudar para participar eu mesmo dos debates, pois queria refutar os “criacionistas” com meu próprio suor.

Mas, apesar de ser “evolucionista” e saber claramente que evolução é fato e criacionismo é mito, devo dizer que minha paixão me cegou. Por mais nobre que seja uma idéia, podemos pervertê-la se a passarmos da maneira errada. E é exatamente isso que está ocorrendo: estamos passando o conhecimento de maneira completamente equivocada. Basta ler as discussões entre “evolucionistas" e “criacionistas” para entender o que eu digo.

O que era para ser uma discussão rica, na verdade se tornou uma massagem de egos. Não é raro ver “criacionistas” chamados de burros, não é incomum ver tiragem de sarro em muitos deles, que, na maior parte das vezes, o são por inocência. Não é raro ver uma discussão rapidamente se tornar uma guerra de egos. Enfim, é muito comum ver ataques despropositados e muito raro ver discussões sérias.

Lembrando que estou desconsiderando aqueles “criacionistas” que o são por oportunismo, porque sabem que estão errados, mas é conveniente enganar o povo. Estou desconsiderando também aqueles que não dão nem ouvidos àquilo que é postado, que simplesmente se fecham e não escutam o outro lado. Estou falando daqueles que muitas vezes chegam inocentemente, na ignorância, pois sempre aprenderam uma coisa e querem discuti-la, mas são recebidos com paus e pedras.

Traçado esse panorama das discussões, quero alertar para o grande problema que isso pode causar. Estou escrevendo este artigo em defesa do EQUILÍBRIO. E, naturalmente, não posso discorrer sobre esse assunto sem citar Richard Dawkins, pois ele é o cúmulo do desequilíbrio. Não vou lembrar de nenhum radical religioso, pois esses são nossos velhos conhecidos. Vou citar Dawkins justamente por ser, como eu o considero, um ateu e “evolucionista” radical. O outro lado da moeda. E deixo bem claro que não o considero radical por ser ateu ou “evolucionista”, pois sou também “evolucionista” e agnóstico, mas pela forma como expõe suas idéias. Exatamente como as discussões são conduzidas nos fóruns de orkut.

Dawkins é contra a religião. Qualquer uma de suas palestras ou vídeos são feitos de ataques e ataques (muitos deles com razão, é verdade). Agora, caro leitor, coloque-se no lugar de um religioso, que viveu a vida toda cercado de dogmas e que nunca foi ensinado a questionar. Toda a sua verdade está na religião e isso bastava para ele. Porém, essa pessoa encontra um grupo que ataca as bases de suas crenças ferozmente; muitas vezes sem respeito ou pudor. Atacando os religiosos e “criacionistas” da maneira como descrevi, céticos e “evolucionistas” parecem tão radicais como os crentes. E é ai que mora o perigo, pois o “criacionista” vai enxergar o evolucionismo (e a ciência) como outro dogma; e dogma por dogma, ele fica com o dele.

Aqui mora o centro da questão. Não podemos, em hipótese alguma, passar o conhecimento de forma dogmática, pois então estaremos nos igualando aos pseudo-cientistas e aos religiosos radicais. RADICALISMO NÃO SE COMBATE COM RADICALISMO. Radicalismo se combate com paciência e métodos. Dia após dia, um a um, devemos expor o conhecimento de forma gradual, mostrando que ele não é dogmatismo, mas que se opõe à atitude dogmática.

Então, caros amigos “evolucionistas” que se enxergam nas situações citadas acima, cuidado com seus atos. Por mais nobre que seja uma idéia, volto a repetir, é fácil distorcê-la se não soubermos passá-la adiante. Digo mais uma vez que radicalismo não se combate com radicalismo. Não nos igualemos ao que tentamos combater; não deixemos que a soberba, a arrogância e a egolatria se apoderem de nós.

Para finalizar e sintetizar, como não poderia faltar, cito Voltaire: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las." Cito também Nietzsche: "Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse."

É por essas e outras que sempre defenderei o EQUILÍBRIO. Sempre.

Defendendo a Nomenclatura Científica

Esqueceram de colocar o pinguim na Arca, ou fizeram um molde imperfeito dele há milhões de anos atrás?

Enfim, os crias podem inferir que essa é uma fraude, um filhote de pingüim e seus progenitores, mas é sim uma Evolução, e uma Evolução Ontogenética.


Todavia, encontraram no Peru dois fósseis de pingüins pré-históricos. À direita temos o Icadyptes salasi,
e à esquerda o Perudyptes devriesi. Ao meio, a título de comparação anatômica, encontramos o Spheniscus humboldti. E comprova por X + Y e Z que houve Evolução Filogenética. Isso indica o quê? Ponto para o neodarwinismo! Leiam o resumo do artigo:

Paleogene equatorial penguins challenge the proposed relationship between penguin biogeography, diversity, and Cenozoic climate change”
Authors: Julia A. Clarke, North Carolina State University, et al.
Published: Online the week of June, 2007, in Proceedings of the National Acad
emy of Sciences.

Abstract: New penguin fossils from the Eocene of Peru force a reevaluation of previous hypotheses regarding the causal role of climate change in penguin evolution. Repeatedly, it was proposed that penguins originated in high southern latitudes and arrived at equatorial regions relatively recently (e.g., 4 to 8 million years ago), only well after the onset of latest Eocene/Oligocene global cooling and increases in polar ice volume. By contrast, new discoveries from the middle and late Eocene of Peru reveal that penguins invaded low latitudes over 30 million years earlier than prior data supported, during one of the warmest intervals of the Cenozoic. A diverse fauna includes two new species, here reported from two of the best exemplars of Paleogene penguins yet recovered. The most comprehensive phylogenetic analysis of Sphenisciformes to date, combining morphological and molecular data, places the new species outside the extant penguin radiation (crown clade: Spheniscidae) and supports two separate dispersals to equatorial (paleolatitude ~14° S) regions during greenhouse Earth conditions. One new species is among the deepest divergences within Sphenisciformes. The second is the most complete giant (>1.5m standing height) penguin yet described. Both species provide critical information on early penguin cranial osteology, trends in penguin body size, and the evolution of the penguin flipper."

Isso significa que:

1 – A extinção das duas espécies de pingüim adaptados ao clima do sudeste do Peru, mais quente que o nosso clima atual, por volta de 35 milhões de anos atrás, foi em resposta ao resfriamento e aumento volume das geleiras na Época Eoceno/Oligoceno entre a Idade Bartoniana/Priboniana.

2 – As novas descobertas revelam que os pingüins invadiram baixas latitudes 30 milhões de anos mais tarde causando surpresa aos paleobiólogos, durante um dos mais quentes períodos do Cenozóico.

3 – Essa descoberta mostra belos exemplares de fósseis, enriquecendo a biodiversidade peruana com duas novas espécies.

4 – Foram parentes distantes dos pingüins atuais da ordem dos Sphenisciformes, de acordo com análises moleculares e morfológicas. Uma das novas espécies, Perudyptes devriesi, é a que mais diverge dentro dos Sphenisciformes, sendo classificada como uma espécie fora das que ainda vivem.

5 – A outra, Icadyptes salasi, é o mais completo fóssil gigante, por volta de 1,5m, encontrado, que promove críticas no âmbito anatômico devido às diferenças na osteologia craniana, tamanho e evolução das nadadeiras dos pingüins.

*Science Daily, EurekAlert, National Geographic, todos esses noticiários estão iguais embasados no artigo jornalístico lançado pela Universidade Estadual da Carolina do Norte, em nome de Tracey Peake. O artigo científico vocês encontrarão na Proceedings of the National Academy of Sciences, com o título supracitado no resumo também supracima citado.

Thursday, June 28, 2007

Palavra de Especialista

RELATO: EXPERIÊNCIA COM UM CRIACIONISTA DENTRO DA ACADEMIA

David G. Borges

biólogo, graduando em filosofia

Como alguns leitores já sabem, sou estudante de filosofia. Faço o curso na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e ingressei no mesmo após ter me graduado em ciências biológicas em outra instituição de ensino superior. Entrei no curso não só por já estar, na época, envolvido com a “polêmica” do criacionismo, mas para aumentar meus conhecimentos – ou seja, minha principal motivação era uma busca por satisfação intelectual.

Há três semanas, um de meus professores pediu um trabalho acadêmico como forma de avaliação para o semestre. A disciplina era “Ética I”. O professor em questão, segundo o seu currículo lattes, é graduado em filosofia e em teologia, fez mestrado em teologia moral e doutorado em ciências da religião. Possui duas extensões, sendo uma em fenômenos parapsicológicos e uma em pastoral catequética. Afirma falar alemão, espanhol, italiano, francês e grego. Publicou um livro sobre ética e direitos humanos, e já participou de três bancas de comissões julgadoras. No entanto, em seu currículo não consta a publicação de nenhum artigo.

Resumindo: uma das questões, a primeira, era referente a um texto sobre criacionismo. Na verdade, um fragmento de texto – extraído do apêndice ao primeiro capítulo (item 1.8) do livro “Princípios de Antropologia”, de Ricardo Yepes Stork e Javier Aranguren Echevarria. Infelizmente, não consegui obter cópia do livro para ler a obra completa; no entanto, o texto se utilizava da típica argumentação com a qual já nos acostumamos. Chamava a evolução de hipótese, dizia que a mesma afirma que o homem é fruto do acaso (e algumas linhas depois afirmava contraditoriamente que a evolução segue um caminho ascendente e previsível) afirmava que os dados científicos são incertos, separava o ser humano dos demais hominídeos, falava sobre o surgimento de características biológicas em ordem completamente errônea em relação aos dados da paleontologia, da zoologia e da genética, se utilizava do falacioso termo “evolucionismo emergentista”, mencionava “inovações complexas” como o olho, fazia a velha analogia das mutações com a tentativa de se construir uma frase “sorteando” as letras que a constituem, comparava um formigueiro ao museu do Louvre, afirmava a existência da alma, a imaterialidade da inteligência, e concluía mencionando a divindade cristã, entre outras coisas.

Obviamente, escrevi meu trabalho – de onze páginas, mas quais oito eram dedicadas a este primeiro texto – refutando o criacionismo. Mencionei minha formação e minha experiência anterior com o tema, bem como dados e conceitos bastante atuais da biologia. Qual não foi minha surpresa quando recebi o trabalho, na sexta-feira da semana passada (15 de junho), com uma série de rabiscos do professor e sem indicação de nota. Quando o indaguei sobre a minha nota, ele afirmou em tom agressivo que eu não merecia uma.

Como se não fosse suficiente, ao ler com atenção as páginas do trabalho encontrei uma série de ofensas. Fui acusado de ser arrogante, desonesto, intelectualmente desonesto (uma “categoria diferente” de desonestidade), intolerante e preconceituoso, além de haverem alusões pouco delicadas à minha inteligência.

Nos manuscritos que o professor fez em meu trabalho, junto dos insultos, se encontrava uma argumentação bastante pueril em prol do criacionismo. A criação era qualificada como “hipótese”, a evolução como “não-testável empiricamente” (assim como a criação) e ambas como “não-opostas”. Tive a nítida impressão de que o professor confundia criacionismo com teísmo. Além disso, ainda afirmou que não conhecia ninguém que aceitasse a “hipótese da criação” que defendia que a mesma fosse uma ciência. Ou seja, total desconhecimento sobre o assunto.

Hoje, segunda-feira (18 de junho), entrarei com um pedido de reavaliação acadêmica do trabalho, bem como uma queixa formal contra os insultos e a exigência de uma retratação. Passei o final-de-semana inteiro redigindo os documentos, que estão acompanhados de uma refutação às anotações do professor. A queixa contra os insultos, redigida pelo meu advogado e assinada por mim, possui dezoito páginas (incluindo em anexo o meu trabalho e o trabalho de outro aluno que também foi ofendido). O pedido de reavaliação, redigido por mim (embora também tivesse sido auxiliado pelo meu advogado em alguns pontos), possui sessenta – incluindo os documentos em anexo. Ontem, domingo, não cheguei a ir me deitar. Só saí do computador para um cochilo rápido às 4:50 da manhã de hoje, retornando às 8:30.

Ainda estou considerando se devo relatar a situação à imprensa. A infiltração dos criacionistas no meio acadêmico é um assunto que está em voga, e recentemente revistas de circulação nacional como a “Veja” e a “Superinteressante” publicaram matérias sobre o tema. Os jornalistas, sempre ávidos por um “furo”, adorariam falar sobre este caso.

Quanto ao texto e ao professor, não passam de mais exemplos de como a “Wedge Strategy” e a agenda criacionista para a infiltração no meio acadêmico têm sem mostrado eficazes. Embora seja de certa forma cômico ver alguém com um título de doutorado cair em pseudo-ciência tão malfeita e primária, também é uma situação extremamente preocupante.

Defendendo a Nomenclatura Científica

É com imenso orgulho que apresento a vocês mais uma ferramenta de informação e, conseqüente, refutação. Defendendo a Nomenclatura Científica será o local de argumentações contra informações falsas que andam sendo disseminadas na internet, seja por websites, blogs, ou artigos científicos, desde que não tenham refutações disponíveis pelos tradicionais sites TalkOrigins, PandasThumb, dentre outros.

É o tópico em favor dos necessitados e sedentos pelo saber científico. Sem meias-verdades, fundamentalismos religiosos e exegese. Contra a caracterização dada pelos criacionistas denominando, os que defendem a Teoria da Evolução das Espécies, de “Evolucionistas”, não somos evolucionistas, e sim cientificistas, amantes da ciência e, consequentemente, da Evolução das Espécies.

Muitos destes veículos de informação podem conter pontos falhos básicos que qualquer evo leigo pode criticar, vamos às regrinhas:


- Primeiro, analise o ano de publicação dos periódicos citados na argumentação e presentes na bibliografia, por exemplo, uma crítica ao livro Genetics and the Origin of Species de Theodosius Dobzhansky, publicado em 1941 pode contar informações sobre genética ultrapassadas, e outras ainda mantidas como vou discorrer mais a frente. Portanto, olhem sempre o ano de publicação dos livros que são citados nas referências bibliográficas de disseminação neocriacionista (design inteligente), ou até mesmo criacionista fundamentalista (Terra jovem).

- Segundo, não dê atenção ao senso-comum, ou frases estritamente emocionais, investigue, sinta-se um cientista, e vá às forras. Se o que você lê em materiais criacionistas não tiver fontes, não perca seu tempo. Critique acima de tudo e todos, e use o método científico.

- Terceiro, meias-verdades. Existem trechos de “evolucionistas famosos” sendo citados pelo mundo e o fundo em: livros, videopalestras, capas de cd gospel, dentre outros. Por exemplo:


Versão Manuseada e Maldosa
Such "simple" instincts as bees making a beehive could be sufficient to overthrow my whole theory. Charles Darwin, Life and Letters, 1887, Vol.2 p.229

Versão Original
"The subject of instinct might have been worked into the previous chapters; but I have thought that it would be more convenient to treat the subject separately,
especially as so wonderful an instinct as that of the hive-bee making its cells will probably have occurred to many readers, as a difficulty sufficient to overthrow my whole theory. I must premise that I have nothing to do with the origin of the primary mental powers, any more than I have with that of life itself. We are concerned only with the diversities of instinct and of the other mental qualities of animals within the same class."

Versão Traduzida
“Consagrarei este capítulo ao exame das diversas objeções que se opõem ao meu modo de pensar, o que poderá esclarecer algumas discussões anteriores; mas seria inútil examiná-las todas, porque, no número, muitas provêm de autores que se não deram ao cuidado de compreender o assunto. Assim, um distinto naturalista alemão afirma que a parte mais fraca da minha teoria reside no fato de eu considerar todos os seres organizados como imperfeitos. Ora, o que eu disse realmente, é que eles não são tão perfeitos como poderiam ser, relativamente às condições de existência; o que prova isto, é que numerosas formas indígenas têm, em algumas partes do mundo, cedido o lugar a intrusos estranhos. Mas, os seres organizados, admitindo mesmo que numa época dada tenham sido perfeitamente adaptados às suas condições de existência, só podem, quando estas mudam, conservar as mesmas relações de adaptação com a condição de se transformar; ninguém pode também contestar que as condições físicas de todos os países, assim como o número e as formas dos habitantes, têm sofrido modificações
consideráveis.” (DARWIN, Charles. A Origem das Espécies, 1 vol., tradução Mesquita Paul, Lello & Irmão – editores, 2003)

- Quarto, fique de olho na tradução, geralmente na tradução de textos alguns trechos perdem seus significados originais, sendo totalmente manipulados.

- Quinto, uma série de ataques de neocriacionistas a figura de Charles Darwin são feitos todos os dias, autor do livro-base da Teoria da Evolução das Espécies, e formador da corrente darwinista. Portanto, ele não é o dono da Teoria da Evolução, e de nada valerá os ataques feitos aos trabalhos dele de séculos passados, entre os séculos XIX e XX. Então, temos de criticar os papers neodarwinistas, história na ciência só entra na Introdução.

- Sexto, olhe as notas de rodapé, podem colocar toda argumentação abaixo e contradizendo algo explicitado anteriormente.

- Sétimo, procure as correlações, analogias, confrontos de idéias presentes nos textos criacionistas, com criticas a partir dos textos sobre a Teoria da Evolução na íntegra, ou com outro paper que cita os estudos que os crias estão criticando.

- Oitavo, cuidado com as conclusões divinas, não sei explicar, é o divino que explica, esse ponto está presente nos papers de Conferências Criacionistas promovidas pela ICR.

- Nono, fique alerta nas reticências, pois são perigosíssimas.

- Décimo, sempre se mantenha informado, esse é o ponto básico, raiz de todos os outros, visto que a evolução está ocorrendo o tempo todo. Então, vários artigos e notícias estão circulando pela internet com assuntos evolucionários, seja no âmbito da genética, química orgânica, da bioquímica, dos sistemas biológico, organismos, populações e fósseis.

No mais, desejo prosperidade e votos de confiança em sua batalha contra a pseudociência, visto que criticar a evolução agora virou moda em vários bloggers poraí, não só criticando, mas detonando a Nomenklatura Científica. (sic)

Tuesday, June 26, 2007

O amigo que Darwin tinha no Brasil


Olá Evos,

Primeira participação minha neste blog de grande valia contra a pseudo-ciência disseminada aos quatro cantos do mundo. Hoje, há uma contribuição de Eduardo Vieira, membro ativo da Linha de Frente Evolucionista no Orkut (vide link à direita), discorrendo sobre a vida de Fritz Müller. Enfim, espero que vocês gostem, assim como eu da biografia deste grande naturalista e Evo, enfaticamente brasileiro.

Johann Friedrich Theodor Müller, conhecido como Fritz Müller, nasceu em 31 de março de 1822 na aldeia de Windischolzhausen próxima a Erfurt na Alemanha. Neto e filho de pastores protestantes, Müller demonstrou desde a infância grande interesse pela história natural no que foi estimulado pelo pai. Cursou universidade em Berlim onde teve mestres como Lichtenstein e Erichson (zoólogos), Hornschuch e Kunth (botânicos) e Johannes Müller (fisiólogo). Estudou farmacologia, ciências naturais e matemática. Doutorando-se em filosofia aos 22 anos de idade.

Em 1845 se inscreveu em um concurso para professor ginasial em Erfurt. Mas sua carreira durou pouco, pois as perseguições políticas realizadas pelo imperador Frederico “O Grande” obrigavam os professores a ensinar apenas o que o governo queria. Diante de seu propósito de jamais ser hipócrita (“sempre que tiver que falar, hei de dizer a verdade” – frase em carta enviada ao irmão August) abandonou seu emprego.

Após deixar de lecionar, Fritz Müller foi estudar medicina concluindo o curso em 1849.

Novamente teve seu sonho interrompido. Por não ser mais cristão, negou a pronunciar frases religiosas durante o juramento em sua colação de grau e por esse motivo não recebeu o diploma de médico e não pode exercer a profissão. Voltou então a lecionar, mas desta vez como professor particular.

Fritz deixou de ser cristão durante a faculdade de medicina. O motivo foi a hipocrisia das instituições religiosas. Em 1848 se casou com Karoline Töellner e em 1849 nasceu sua primeira filha, Louise. Em 1852 nasceu sua segunda filha, Johanna e poucos dias depois a filha primogenita morreu.

No mesmo ano, leu um livreto escrito pelo Dr. Blumenau que divulgava a colônia fundada por ele no Brasil e Fritz Müller decidiu emigrar. Sobre o qual disse “Nessa intolerância religiosa vigente no país de Frederico não se poderia esperar por enquanto alguma mudança, então decidi emigrar. Escolhi o Brasil, primeiramente por sua rica flora e fauna, em segundo lugar porque acreditava que aqui a índole alemã poderia se conservar mais facilmente do que entre os ianques e em terceiro lugar porque o fundador da Colônia Blumenau, já me era conhecido de muitos anos”. Em 19 de maio de 1852 embarcou para o Brasil a bordo do veleiro Florentin, juntamente com a sua família e o irmão August e sua esposa. Após dois meses chegaram ao Brasil e se instalaram em Blumenau abrindo clareiras na mata e construindo uma cabana. Tempos depois uma enchente destruiu sua casa e se mudou para a outra margem do rio Itajaí onde construiu uma casa no estilo enxaimel (onde hoje é o Museu Ecológico Fritz Müller). [1]

Nos primeiros anos em que morou na colônia, Müller ajudou a construí-la, pesquisou a fauna e flora e atendeu os casos de doenças mais graves. Tinha relacionamento amigável com os índios da região que o protegiam contra animais selvagens enquanto realizava pesquisas na mata.

Contudo, Dr. Blumenau se sentiu incomodado com seu comportamento, temia que suas convicções políticas e seu descaso com a religião pudessem influenciar outros colonos. Logo tratou de lhe arranjar um emprego de professor de matemática em Desterro (atual Florianópolis) e apesar de saber as verdadeiras intenções de Dr. Blumenau, Fritz Müller aceitou o cargo de bom grado.

O emprego lhe caiu como uma luva, pois tinha tempo livre para realizar suas pesquisas sobre história natural e aliado ao fato de morar perto do mar, uma fonte inesgotável de pesquisa, foram determinantes em sua carreira de naturalista. Morou em Desterro de 1856 até 1867. Em 1856 foi ao Rio de Janeiro se naturalizar brasileiro.

Em 1861 Fritz Müller recebeu de presente de seu amigo Max Schultze, professor de zoologia em Halle, um exemplar do livro “A Origem das espécies” de Charles Darwin em alemão e ficou fascinado com os argumentos apresentados por Darwin aceitando a teoria da evolução. Após a leitura do livro resolveu escrever uma carta para Charles Darwin falando sobre o livro (pratica comum entre os naturalistas da época). Então lhe veio outra idéia. Fazer seus próprios experimentos para comprovar a teoria da evolução.

Fritz Müller então buscou uma espécie para servir como modelo para colocar a prova a teoria de Darwin. Optou pelos crustáceos por vários motivos; por serem abundantes na região, já terem uma classificação taxionômica conhecida e por apresentarem um desenvolvimento ortogenético complexo e variado.

Em abril de 1862 ele escrevia ao irmão em Lippstadt: "No último verão me ocupei quase que exclusivamente com crustáceos, mais propriamente com a história do desenvolvimento dos camarões e lagostins, que lança uma luz totalmente nova nas condições de parentesco dos crustáceos e sobre toda a morfologia dos artrópodes; espero que isto possa ser utilizado como importante meio de comprovação a favor dos ensinamentos de Darwin sobre a origem das espécies animais e vegetais. Elaborar a história do desenvolvimento dos animais a partir de larvas pescadas no mar, as quais percorrem uma longa série de formas, é um dos trabalhos mais sacrificados e que mais tempo consomem, mas também é de todos o mais atraente, emocionante e com freqüência, cheio de verdadeiro enredo romanesco, decepções, surpresas”.

O objetivo de Müller era descobrir se os crustáceos evoluíram, se adaptando ao ambiente. Estudou em várias espécies as formas que os crustáceos passam até chegar a idade adulta definitiva. Descobriu que algumas espécies tinham um desenvolvimento mais complexo, passando por vários desses estágios. Outras paravam no meio do caminho, adotando um desses pré-estágios como forma adulta.

Assim ele montou uma espécie de árvore genealógica dos crustáceos, concluindo que as espécies com desenvolvimento mais complexo evoluíram de outras com desenvolvimento mais simples por meio de adaptações ao ambiente. Todos os estudos comprovaram o que Darwin havia descrito em teoria. Os estágios pelos quais passam os crustáceos antes de chegar à forma adulta seriam repetições das espécies ancestrais a partir das quais esses animais evoluíram.

Em 7 de setembro de 1863, Fritz Müller concluía um pequeno porém consistente livro, repleto de fatos novos e em consonância com as idéias propostas por Darwin.

"Für Darwin" (A Favor Darwin) foi editado em Leipzig, Alemanha, em 1864. Não demorou para que o próprio Darwin viesse a tomar conhecimento deste precioso e inesperado colaborador que se manifestava da América do Sul.

Darwin ficou impressionado com o livro e bancou a tradução para o inglês, lançando a obra com o nome Facts and arguments for Darwin (Fatos e argumentos a favor de Darwin), e passou a citar o cientista alemão nas edições seguintes de "Sobre a origem das espécies". Os dois naturalistas trocaram correspondência intensa e se tornaram amigos. A primeira carta foi escrita por Darwin em 10 de agosto de 1865. A última carta que Darwin remeteu para Fritz Müller, foi datada em 4 de abril de 1882, quinze dias antes de sua morte. Sabe-se que Darwin escreveu 58 cartas a Fritz Müller, em 17 anos de troca de correspondência. Uma freqüência considerável, uma vez que em média, uma carta levava 45 dias a caminho.

Também manteve correspondência com Hermann Müller, Alexander Agassiz, Ernst Krause, e Ernst Haeckel.

Ernest Haeckel generalizou conceitos introduzidos por Fritz Müller, elaborando a controversa Lei da Biogenética Fundamental. Passou a afirmar, de forma dogmática, que todas as espécies de animais recapitulam as mudanças ocorridas em sua ancestralidade durante o desenvolvimento larval ou embrionário.

Fritz Müller também contribuiu com a biologia com a teoria do mimetismo mülleriano. Formulou a teoria ao observar que diferentes espécies de borboletas da mata Atlântica possuíam sabor desagradável se assemelhavam mutuamente a fim de enganar as aves. Se um pássaro “experimentasse” uma borboleta de qualquer uma destas espécies se lembraria de seu gosto horrível e evitaria comer outras borboletas parecidas. Essa relação é chamada de mimetismo de Müller ou anel mimético que era diferente do mimetismo apresentado por Henry Bates. [2]

Para analisar o mimetismo entre duas espécies de lepidópteros, ele elaborou a primeira equação matemática aplicada à ecologia. [3]

Publicou 248 artigos científicos sobre o estudo de animais e plantas. Catalogou novas espécies e realizou estudos sobre crustáceos, vermes, borboletas, cupins, abelhas brasileiras (foi um dos maiores observadores) e outros insetos. Entre 1884 e 1885, encontrou um verme gigante de 1,5 metros (Balanoglossus gigas), até então conhecido apenas em versões bem menores. Mas não conseguiu convencer a comunidade científica da descoberta por não conseguir enviar um exemplar inteiro para a Europa (ele se enterrava na areia e quebrava ao ser puxado). Só em 1893 a descoberta foi confirmada, com exemplares do mesmo animal encontrados em São Sebastião, no litoral paulista. No fim da vida se dedicou ao estudo de bromélias.

Uma das mais belas descobertas se refere à fauna encontrada nas bromeliáceas. Nestas plantas ocorre o acúmulo de água suficiente para permitir a proliferação de muitos seres minúsculos – protozoários, miriápodes, larvas de dípteros, ortópteros, neurópteros, tricópteros, tipulídeos e sirfídeos, além turbelários, aracnídeos e um crustáceo da família Cytheridae, ao qual deu o nome de Elpidium bromeliarum.

Pesquisou a simbiose entre a embaúba e formigas. No pecíolo da folha da embaúba existe uma parte branca e saliente que vista pelo microscópio revela uma glândula (chamada “corpúsculo de Müller” em homenagem ao descobridor) que produz uma substância doce que contem glicogênio. As formigas se alimentam deste mel e vivem entre os nós dos galhos da embaúba protegendo a árvore do ataque de insetos nocivos.

Fez também excelentes observações sobre a fecundação de orquidáceas. Descobrindo que tais plantas são auto-estéreis, ou seja, o pólen de uma flor é incapaz de fecundar os óvulos da mesma. Dependendo de agentes polinizadores.

Retornou a Blumenau em 1867 e voltou à atividade de colono, pesquisador e médico se tornando presidente da câmara dos vereadores anos depois. 1876 foi nomeado “Naturalista viajante” do museu nacional por D. Pedro II e só perdeu o cargo em 1891 com a proclamação da república. Foi chamado por Darwin de “O Príncipe das Observações” e recebeu o título de Doutor Honoris Causa das universidades de Tübingen e de Bonn na Alemanha.

No final de sua vida era considerado um dos maiores cientistas do mundo apesar de estar longe dos grandes centros acadêmicos da Europa e praticamente não ter contato com outros pesquisadores.

Johann Friedrich Theodor Müller faleceu no dia 21 de maio de 1897, aos 75 anos, na casa de sua filha Johanna em Blumenau. Teve dez filhos, destes apenas um do sexo masculino que morreu pouco depois do parto. Recebeu várias homenagens póstumas incluindo uma estátua em uma praça em Blumenau e um museu ecológico instalado em sua antiga casa. Além de várias homenagens do meio acadêmico. Haeckel o chamou de “Herói da Ciência”. Sua vida foi descritas em várias biografias e deixando uma lição de humildade, amor pela ciência e busca pela liberdade expressada por duas de suas frases; “sem liberdade não há verdade e nem virtude” e “... tomei a firme decisão de tudo sacrificar pela verdade e pela liberdade”.

"Eu odeio os hipócritas que trazem um credo nos lábios e um bem diferente no coração...." (Fritz Muller, em carta ao irmão August)

Fontes:


http://www.mulleriana.org.br/mulleriana/muller_nomura.asp

www.blumenauonline.com.br

www.brazilian-plants.com.br


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Estamos de Volta!

Olá leitores do Blog "LinhaEvo"!

Após alguns meses parados e sem postar, o Blog está de volta. Esse intervalo sem postagens se deu porque eu, o autor do Blog, fiquei sem tempo para acessar a internet e não encontrei ninguém que se dispusesse a cuidar do Blog. Agora, tenho um pouco mais de tempo e um novo autor também publicará nesse Blog.

É o Allysson, um amigo da comunidade Linha de Frente Evolucionista, que fará publicações no estilo do Blog. Notícias, estudos, textos de especialistas e todo o material que os leitores do já estavam sentindo falta.

E, para a re-estréia do Blog, em breve publicaremos um texto do nosso colaborador, David Borges sobre o criacionismo nas Universidades.

Boa leitura a todos e espero que o Blog continue a fornecer conhecimento e a combater a pseudo-ciência.

Um Grande Abraço,
RENAN