Monday, November 27, 2006

Palavra de Especialista

“REFLEXÃO SOBRE O DOGMATISMO CIENTÍFICO NO ORKUT”

Margarita Rodrigues

MS, doutoranda em Sociologia.

27/11/2006

O texto anterior (“Demonização de Darwin”) é resultado de um pedido de um amigo, através de e-mail, para escrever uma resposta para um tópico aberto em uma comunidade do Orkut, na qual havia participado - a Criacionismo. Na verdade, relutei em escrever, já que havia decidido me afastar de discussões que envolvam o tema. Participando em outras comunidades, percebi que discutir ciência com fundamentalistas religiosos não só é perda de tempo, porque representa mexer com crenças profundamente enraizadas ao longo de suas vidas, como também porque acredito que, se na sala de aula e estudando sobre o assunto essas pessoas não mudaram a sua visão de mundo, não será o Reality Show da virtualidade orkutiana que os farão mudar. A teoria popperiana do Balde explica bem esse fenômeno!

Usar a tecnologia da comunicação da internet ou virtualidade como informação, mas utilizando a mesma metodologia de “ensino bancário”, continuará privilegiando a educação para a formação dos “Filisteus da Cultura” de que Paulo Freire e Nietzsche falam. Percebi também haver entre aqueles que fomentam as discussões, estudantes que se aproveitam das respostas embasadas cientificamente em seus trabalhos escolares. Como disse sabiamente Nietzsche: “o papel do professor não é empanzinar os espíritos, mas criar uma fome”. Além do que, se formos analisar o que se passa nessas comunidades, se veráformos analisar direito Comunidade Criacionismo x Ecomunidades veremos que beira para um t que o dogmatismo já chegou também à ala científica, como por exemplo, quando da defesa extremada, a argumentação cientifica nos últimos tempos sempre vem carregada de ironia, prepotência ou arrogância (muitas vezes acompanhada de pornografia). Ou quando passam a desqualificar as ciências preparadigmáticas na defesa “cega” ao empiricismo, esquecendo as palavras de Khun sobre os “saltos” ou “revoluções científicas”. Negar que estamos em meio a um processo revolucionário é não enxergar a evolução do conhecimento científico nas mais diversas áreas do conhecimento. Desde o início do século XX novas descobertas dos fenômenos subatômicos, da física quântica, vêm dando novos contornos às estruturas da natureza dos fenômenos até então estudados e abalando a base do paradigma científico newtoniano/cartesiano, que dominou a ciência moderna ao longo destes três últimos séculos. Edgard Morin nos ensina que nem mesmo a união de todas as ciências seria capaz de explicar os fenômenos da complexidade. Já o olhar de Ilya Prigogine nos trouxe a “novidade a respeito da organização e criatividade na natureza, do pensamento humano enquanto função cognitiva e conceitos sobre o Tempo”.

Não estariam, sob a mascara da “erudição”, os cientistas escondendo ou defendendo uma “teologia camuflada”? O quê dizer então sobre a sugestão dada de um livro de Schopenhauer como “manual de refutação de falácia” e que foi levado para outra comunidade, a Céticos S/A, como o seguinte título no tópico “Da leviandade de alguns membros”?

Como foi discutido nas Comunidades Linha Evolucionista, TMF/Tenho Medo de Fanatismo e Evolucionismo x Criacionismo, no tópico Evo x Evo, o nível das discussões já entrou para alguns professores/pesquisadores no terreno da ética.

Dado o nível tomado nas discussões, são poucos os criacionistas que ainda permanecem, ou que discutem nessas comunidades porque o dogmatismo científico está conseguindo esvaziá-las, porém isso não indica que estão ganhando o debate.

Finalizando lembro aos cientistas/professores e àqueles que usam sua real identidade, que o mundo virtual do Orkut é apenas mais uma “jaula de ferro” que a burocracia, no sentido weberiano se apropriou, ou um simulacro do “panóptico de Bentham” de que fala Foucault. Mesmo moderada, as comunidades são “vigiadas” e “observadas” e um pequeno deslize pode comprometer a vida profissional de alguém mais exaltado como diversas reportagens sobre esse tema já informaram. A linguagem utilizada no Orkut é um terreno fértil para aqueles que se dedicam à Análise do Discurso!

Os profissionais da educação e da ciência não podem se dar ao “luxo” de repetir a frase que um estudante militante “evo” me deu ao ser alertado sobre essa possibilidade de estar sendo “vigiado”: “Felizmente não preciso trabalhar ainda, mas, quando precisar deleto esse perfil e abro outro”.

Para aqueles que poderão vir a ver essa crítica como negativa, afirmo que não foi essa minha intenção. Muito pelo contrário, tenho aprendido muito nas leituras que faço do que é postado com seriedade. Minha intenção foi tentar provocar aquilo que costumo fazer com meus alunos: “uma tempestade de idéias”. Às vezes, estamos tão empolgados com um tema no Orkut, que esquecemos que a vigilância eletrônica faz parte do dia-a-dia de nossas vidas e que a privacidade da vida está cada vez mais limitada. E, se mesmo assim, não for compreendida me desculpem, parafraseando Voltaire, mas vou defender o seu direito de criticar mesmo que não compartilhe de suas idéias.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Há quem, com justas razões, não goste da segunda-feira. Aliás, até pouquissímo tempo, eu cerrava fileiras com os que assim pensavam. "A semana deveria começar na terça !" "Segunda não deveria existir". Eram essas as premissas que nós, inimigos da segunda, adotávamos.
Mudei de opinião !
Agora, passo a aguardar com ansiedade quase juvenil, a chegada da segunda-feira.
Quando mais jovem, fui devorador contumaz de uma literatura barata - era o que o $$$ dava prá comprar - um livretinho de bolso, editado pela Ediouro, se não me equivoco, chamado Shell Scott, um detetive. A periodicidade era mensal, e eu esperava com mal disfarçada ânsia, a chegada do livro nas bancas de jornais.
Pois bem, o tempo passou, eu já li um pouco de tudo, e agora me deparo com textos da Dra. Margarita. Pessoa de poder de análise refinado; capacidade de colocar as questões de forma a instruir sem ser enfadonha; vai, paulatinamente, esparramando pelo meu monitor, idéias explendidamente concatenadas. Muito embora seja didática, deixa, ainda, um vão, uma fresta, uma possibilidade para que possamos nos inteirar mais do assunto. Como ela mesma diz, cria "uma tempestade de idéias"...
Por hoje estou saciado... vou aguardar a próxima segunda-feira, contando os dias que dela me separam...
Mais uma vez, obrigado, Dra. Margarita !

5:43 PM  
Anonymous Anonymous said...

Simplesmente, excelente...
Parabéns, Margarita.

5:13 PM  
Blogger Unknown said...

A análise da professora, e Mesta Margarita Rodrigues é genial, desde a sua gênese de singeleza. Penso que ela discorreu com maestri (e mestria) sobre os pontos que eu poderia, eventualmente comentar. Mas já estãos todos aqui comentados, e com certeza, com maior sabedoria que aquelas que poderiam sair de minha pena (dedos e teclado).
Entretanto, destaco este trecho:
"Desde o início do século XX novas descobertas dos fenômenos subatômicos, da física quântica, vêm dando novos contornos às estruturas da natureza dos fenômenos até então estudados e abalando a base do paradigma científico newtoniano/cartesiano, que dominou a ciência moderna ao longo destes três últimos séculos. Edgard Morin nos ensina que nem mesmo a união de todas as ciências seria capaz de explicar os fenômenos da complexidade. Já o olhar de Ilya Prigogine nos trouxe a “novidade a respeito da organização e criatividade na natureza, do pensamento humano enquanto função cognitiva e conceitos sobre o Tempo”.

Não estariam, sob a mascara da “erudição”, os cientistas escondendo ou defendendo uma “teologia camuflada”? O quê dizer então sobre a sugestão dada de um livro de Schopenhauer como “manual de refutação de falácia” e que foi levado para outra comunidade, a Céticos S/A, como o seguinte título no tópico “Da leviandade de alguns membros”?"
Sem mais
Um abraço fraterno a todos.
João Batista do Lago

5:17 PM  

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